Lúcio Packter

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

(atualizações semanais)

Provavelmente a maior parte do que viria a ser a  influência grega para o mundo até os nossos dias está situada entre Homero e Aristóteles, um tempo que se espalha por aproximadamente quatro séculos. As comunidades gregas alcançavam na época de Heródoto desde onde hoje é a Turquia até o sul da Itália, do leste do Mar  Negro até Marselha, e mesmo as ilhas que se estendiam junto à península grega. Para entendermos a influência grega é oportuno considerarmos que a maneira como as pessoas se relacionavam levava em conta principalmente a comunicação verbal, a conversa direta, o encontro. Além disso, a cultura chegava à maior parte das pessoas, algo complexo em nossos dias, ainda que com o advento da Internet.

Os gregos não entabulavam esforços consistentes em suas relações, no sentido do estabelecimento das melhores afinidades. Por exemplo, não manifestam disposições para aprender outras línguas; conquistados pelos romanos, mantiveram esta disposição intacta. Não era exatamente cômodo ao grego comum, com suas crenças e cultos religiosos do mundo helênico, compreender a extensão do cristianismo. Mesmo assim, desenvolveram uma cultura sólida, de tal maneira a formar bases perenes. Os cuidados, as minúcias, o capricho dos arquitetos gregos impressionam e encontram poucos similares na história.

Fazem lembrar o preciosismo do Barroco francês. Nas artes plásticas o mundo pareceu acatar a determinação greco-romana até o século XVIII. O ideal, a harmonia, o equilíbrio reinaram nestas artes como em poucos segmentos do saber humano. Isso não deixa de surpreender, pois  até Homero muito pouco ou quase nada dessas artes havia de significativo; um ínicio tardio e que instiga arqueólogos. Roma, Egito, Ásia Menor, Síria levaram inicialmente a herança  grega aos povos.No século VII, o norte da África e o Oriente Médio são conquistados pelos árabes. Assimilaram em duzentos anos o legado grego e tiveram êxito em adaptar práticas bizantinas.

O islã não tinha então uma teologia desenvolvida; o aprofundamento veio da mesma fonte onde o cristianismo buscara sua inspiração; o pensamento grego. Já entre as tradições que chegam ao ocidente, o direito ao voto é um dos elementos mais notórios. Na Renascença, encontramos comunas inspiradas no modelo de cidade-Estado. A Teoria Política grega se expressa com vigor em Platão e Aristóteles. A Ilíada e a Odisséia, de Homero, dão início à literatura grega escrita. Santo Agostinho, mais confortável com o latim e menos com o grego, preferia Virgílio a Homero_ acentuando uma inclinação que se espraiaria por todas as gentes.

Ainda mais  que o grego de Homero trazia diferenças significativas em relação ao grego clássico. O latim homenageara, mas enfraquecia Homero, golpe que a partir de Goethe seria aparentemente definitivo. Harry Potter, de J. K. Rowling, faz renascer alguns dos melhores momentos de Ilíada. A s Crônicas de Nárnia, escrita pelo irlandês C.S.Lewis,vai na mesma direção. Georg Lukács, se junta a uma gama de especialista em teatro que atribuem à tragédia e à comédia grega o que temos nos palcos europeus. Também a História nos deixada por Heródoto como mais uma contribuição grega. Sua obra usa de diálogos e descrições na primeira pessoas, narração direta, semelhante à dos jornalistas de hoje.

Os gregos inovaram nas ciências e na matemática conferindo um rigorismo pouco usual se os compararmos com a matemática babilônica, por exemplo. A herança grega afeta em diferentes graus desde o modo como hoje pensamos, nosso vestuário, nossas relações com religião e religiosidade, a ciência, a Filosofia, a cultura, as relações sociais, a educação, e avança em direção a elementos como Arquitetura, Física, Biologia. Dificilmente encontraremos uma área das atividades humanas que seja deserta das inclinações gregas. A seguir, foi desenhado um percurso subjetivo em 40 itens, por ordem alfabética, pelos quais se pode conhecer algumas dessas relações.

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