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Artigos de Lúcio Packter título - A teoria, a prática artigo publicado na edição 37 da revista Filosofia, da Editora Escala.
Na revistinha de bordo Almanaque de Cultura Popular, da TAM, li a seguinte história que veio sem autoria. Um sujeito há anos sofria de um mal único. Tomava um gole de café e sentia uma dolorosa pontada no olho esquerdo. Não havia remédio ou jeito que resolvesse o assunto. Até que certo dia decidiu procurar um médico. Explicou o problema. O médico pediu a ele para tomar café. O homem tomou várias vezes, as pontadas seguiam incomodando. Ao final do exame, o sujeito exclamou: _ Pelo amor de Deus, doutor! Meu problema tem solução? _ Tem sim. É só tirar a colherzinha de dentro da xícara... Ou seja, a prática como complemento do que iniciamos em teoria, e em seguida a contrapartida. No consultório, conforme o andamento do que nos relata a pessoa, os caminhos de pesquisa teóricos apontam para uma longa e demorada investigação. Há pessoas que inventam fatos, deturpam intencionalmente outros, acrescentam elementos que tornam os eventos simpáticos a elas, constroem justificativas de ocasião, enredam-se em considerações sem fim em argumentos viciados. Tudo isso desmorona às vezes se o filósofo clínico deixar o consultório e caminhar com a pessoa em um jardim, se marcar uma entrevista na casa da pessoa, se encontrar-se com ela na biblioteca da Universidade ou em um local de convívio familiar da pessoa. Isso nem sempre é possível, nem sempre é indicado. Mas pode fazer mostrar a colherzinha dentro da xícara. Porém, a própria teoria se aplica em si mesma também. No mesmo Almanaque de Cultura Popular, que é ilustrado como os antigos almanaques de costumes, com flâmulas e adereços entre os textos, outra historinha conta que um homem conversava com o amigo na mesa do bar: _ Ontem meu cartão de crédito foi roubado, mas decidi não avisar a polícia. _Por quê? _ pergunta o amigo. _ O ladrão está gastando bem menos do que a minha mulher.
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